Uma ausência sofrida

Creio que muitos estarão falando por mim, quando afirmo que a cidade perdeu, na manhã de quinta-feira, uma veneranda senhora, que ligou toda a sua vida aos destinos de Petrópolis. É claro que me refiro à bondosa senhora Arabela Silva de Sá Earp, filha do grande brasileiro Hermogênio Silva, esposa do ilustre médico petropolitano Artur de Sá Earp Filho, ambos de saudosa memória, e origem de uma das mais conceituadas famílias desta imperial cidade, que é a família Sá Earp, com todos os ramos e troncos em que se dividiu essa frondosa árvore da genealogia humana.
Dama de raras virtudes, amealhadas na austeridade de uma vida em tudo irrepreensível, dela se tinha a impressão de que caminhava para alcançar um século de caprichosa vivência.
Católica por convicção, aos domingos, à Missa das 11, na Catedral, lá ia D. Arabela, de terço à mão, para seu encontro espiritual com Deus. Era admirável vê-la, vergada, não obstante, ao peso dos anos, a saldar seu compromisso semanal de cristã, indo pessoalmente ao encontro de Deus!
Domingo, mesmo, lembro-me de que a vi na Catedral, à Missa das 11 horas. Em sua companhia esteve grande parte da família. Em certo momento, vi-a fitando docemente uma neta, que por ela passara a recolher o óbolo,fruto da benemerência cristã. Pensei então: essa velhinha é um exemplo para muita gente, que se entrega à comodidade do lar, sem respeito aos mandamentos da doutrina cristã. Em sua companhia, traz filhos, noras, genros e netos, numa tarefa já de si evangelizadora.
Obediente ao chamamento da Providência Divina, embarcou «de improviso» para a posteridade a veneranda senhora, deixando funda mágoa na alma e no coração dos que aprenderam a admirá-la, na pureza de suas virtudes morais.
Uma legião de amigos foi levá-la à última morada, transportando-a da mansão de onde, por muitas décadas, se irradiaram os melhores exemplos de virtude, que uma dama, como esposa, como mãe, como sogra e como avó pôde oferecer a uma sociedade a que seu pai, seu esposo, seus filhos e demais parentes sempre procuraram servir, com o mais nobre dos propósitos.
Sirvam de bálsamo a seu corpo inerte as olorosas flores, que nascem dos canteiros desta dadivosa terra! Espalhem-se sobrecéu ataúde as lágrimas de uma população que assistiu, no passo tardo das horas, à luta de uma heroína, que soube concluir, complementar, laminar a formação de uma prole, que a ausência do marido dificultou!
Desça sobre sua campa a terra leve, que ela própria arou com seus exemplos de esposa e de mãe.
Petrópolis, genuflexa, reza, em coro, pela ascensão de sua santa alma aos Céus.